Estimados Colegas,
No dia 19 de Setembro tive a honra e o privilégio de, a convite da Madalena Pimenta, poder participar numa reunião de médicos das especialidades de radiologia, neurorradiologia e medicina nuclear, que teve lugar na Ordem dos Médicos (OM) no Porto. A sala Braga foi pequena para as muitas dezenas de médicos que responderam ao apelo da Madalena Pimenta, promotora e organizadora do encontro.
A apresentação dos vários problemas que estão, desde há alguns anos, a afetar a atividade dos especialistas em imagiologia, foi amplamente debatida e foram propostas algumas soluções para encontrar um caminho sólido que permita olhar para o presente e o futuro de uma forma diferente, sob o lema “Yes We Can”.
Esta reunião deixa uma marca importante para o futuro da nossa profissão. E porquê? Pela coragem e determinação que senti em todos os médicos que estiveram presentes; pela clareza, honestidade e frontalidade com que assumiram a defesa da profissão e as fragilidades que neste momento existem no seio da mesma; pelo espírito de grupo, união e solidariedade que demonstraram entre si; por pensarem mais no bem comum e menos na situação individual; pela qualidade das ideias expostas e pela valentia de seguir um caminho; pela capacidade de planeamento e organização demonstradas; por terem esperança e acreditarem que juntos podem ter um presente e um futuro melhores; pela preocupação em deixarem às gerações vindouras um caminho seguro e mais fácil de percorrer; e, acima de tudo, por estarem dispostos a lutar pelos princípios e valores em que acreditam.
Tenho a certeza que a vontade e energia que encontrei neste grupo de médicos vai contagiar todos os outros, de todas as especialidades.
Este é o momento de reiterarmos a exigência de ser respeitados e dignificados no exercício da nossa profissão, ter melhores condições de trabalho a todos os níveis (infraestruturas, equipamentos, materiais clínicos, apoio de outros profissionais de saúde), mais tempo para os diferentes atos médicos, mais equidade e justiça na valorização do nosso trabalho e da imensa responsabilidade que temos na sociedade civil.
Como médicos temos o dever de defender e respeitar os princípios e valores éticos e deontológicos que juramos cumprir no exercício da nossa profissão e na nossa vida como pessoas. E a obrigação de defender os nossos doentes e cidadãos, promovendo a qualidade da medicina e da formação, seja no setor público, privado ou social.
A ideia inovadora da constituição de uma Associação privada, para reforçar a capacidade de intervenção e negociação de um grupo específico de especialidades, foi apresentada como forma de potenciar a comunicação dentro do grupo, denunciar situações irregulares à OM e atingir objetivos difíceis de alcançar de outro modo, como sejam aqueles que dizem respeito a remunerações.
Como médico e como bastonário, estou inteiramente solidário e ao vosso lado. E totalmente disponível para vos apoiar, respeitando o Estatuto da OM, nas justas reivindicações que foram apresentadas. A nível local, regional ou nacional, com o apoio das estruturas e serviços da OM. Junto das administrações hospitalares ou na comunicação social.
Se me permitem gostaria de vos provocar com alguns desafios, que julgo corresponderem ao sentimento geral dos médicos presentes na reunião, de certo modo interpretados pela Madalena Pimenta e pelo Ricardo Sampaio. Sejam exigentes na defesa da qualidade da formação médica. Um médico com boa formação académica e especializada tem sempre trabalho garantido em qualquer parte do mundo.
Sejam exigentes e responsáveis na aplicação prática da ética e deontologia, expressas nos códigos de ética universais e no nosso código deontológico.
No exercício da medicina, sejam exigentes na defesa e aplicação das boas práticas e das regras da arte. Não hesitem, em denunciar às autoridades competentes, nomeadamente à Ordem dos Médicos (denuncias@ordemdosmedicos.pt), as insuficiências ou deficiências, que condicionem negativamente a prática médica.
Sejam intransigentes na defesa e promoção da relação médico-doente e da dignidade e humanização do ato médico.
Sejam implacáveis na defesa dos doentes, denunciando práticas sem validade científica comprovada, exercício ilegal da medicina e publicidade enganosa. Sejam inabaláveis na defesa da carreira médica, dos princípios fundadores do SNS e da qualidade da medicina nos setores público, privado e social.
Não hesitem em lutar pela transparência de processos e procedimentos.
Não aceitem situações em que potencialmente estão em causa conflitos de interesse.
Sejam firmes no vosso contributo para combater o desperdício e a corrupção.
O vosso papel na sociedade civil vai muito para além de ser médico.
Não esqueçam, nunca, o vosso papel como pessoas, e defendam sempre uma sociedade mais justa e plural e um mundo sem medo.
Não deixem que sejam outros a decidir por vocês. A capacidade de decisão é absolutamente determinante, como médicos e como cidadãos.
A qualidade e evolução permanente da medicina portuguesa necessita do contributo ativo de todos os médicos, do vosso contributo.
Juntos somos mais fortes.
Miguel Guimarães